“Certo dia, quando Jesus viu que as multidões se ajuntavam, subiu a encosta do monte e ali sentou-se. Seus discípulos se reuniram ao redor, e ele começou a ensiná-los. “Felizes os pobres de espírito, pois o reino dos céus lhes pertence.”
Mateus 5:1-3
Hoje iniciamos nosso devocional com uma curiosidade que muitos passam por alto: por que Mateus menciona que Jesus sentou-se para ensinar?
O Evangelho de Mateus foi escrito especialmente para os judeus, as “ovelhas perdidas da casa de Israel”. Na cultura judaica, quando um mestre da Lei ensinava em pé, tratava-se de uma conversa ou exposição mais informal. Mas quando ele se assentava, isso comunicava autoridade. Era sinal de que o ensino que viria a seguir era formal, fundamentado e essencial. Ao se assentar no monte, Jesus mostrava, já de início, que estava falando com autoridade.
O versículo 3 nos conduz à primeira bem-aventurança:
“Felizes os pobres de espírito, pois o reino dos céus lhes pertence.”
Mas o que exatamente Jesus quis dizer com isso?
Primeiro, precisamos compreender o que não é ser pobre de espírito.
A pobreza de espírito não se trata de pobreza material, de viver sem bens ou conforto em troca de piedade, como alguns interpretaram no passado. Um exemplo famoso é Francisco de Assis, que entendeu essa passagem como um chamado à renúncia total dos bens físicos. Inclusive Francisco de Assis gerou uma área da igreja católica chamada de Franciscanos, onde eles se abdicam de qualquer conforto material. Apesar da tentativa de Francisco de Assis, essa interpretação não corresponde ao verdadeiro sentido bíblico do texto.
A pobreza de espírito também não é ausência de consciência espiritual, nem uma vida apática ou sem direção certa.
Mas o que é a pobreza de espírito?
Eu vou usar a fala de um teólogo para transmitir o que é a pobreza de espírito, segundo o teólogo D.A. Carson, "A pobreza de espirito é o reconhecimento pessoal da falência espiritual, é a confissão consciente da própria indignidade diante de Deus”.
Ou seja, é quando entendemos que sem Deus não somos absolutamente nada.
Os irmãos conseguem se lembrar da parábola do fariseu e do publicano? Enquanto o fariseu exaltava sua própria justiça, o publicano se esvaziava de si mesmo, batia no peito e clamava por misericórdia. Aquilo é pobreza de espírito: reconhecer sua total dependência de Deus, admitir que não temos valor moral diante de Deus, e clamar por sua graça e misericórdia.
Ser pobre de espírito é o primeiro passo do discipulado cristão. É esvaziar-se da autoconfiança, do orgulho espiritual, da autoestima moral, da vanglória pessoal, para que Deus, então, nos encha com o seu Espírito Santo.
Não pense que ser pobre de espírito é algo banal, não pense que você poderá ter sede e fome de justiça, mas não ser pobre de espírito. Ser pobre de espírito é essencial. Todas as demais bem-aventuranças (ser manso, chorar pelo pecado, ter sede de justiça, ser misericordioso...) todas elas dependem desse primeiro passo. Sem o esvaziamento do nosso eu, sem o esvaziamento do nosso ego, sem o reconhecimento de que sem Cristo não somos nada, não entraremos no Reino. Porque, como o próprio Jesus diz, “pois o reino dos céus lhes pertence.”, pertence aos que entenderam que sem Deus, nada nessa terra faz sentido.
Você tem se esvaziado de si mesmo?
Tem reconhecido, com sinceridade, que sem Deus nada é?
Tem clamado por misericórdia como o publicano?
Ser pobre de espírito não é apenas uma postura no momento da conversão, ser pobre de espírito é um estilo de vida diário, onde abrimos mão do orgulho, da autossuficiência e de toda vaidade.
É reconhecer, por exemplo:
- Que não temos controle sobre o dia de amanhã, e por isso confiamos na providência de Deus.
- Que não somos melhores que os outros, e por isso tratamos todos com graça e misericórdia.
- Que nosso valor não está no que fazemos, mas no que Cristo fez por nós.
Uma verdadeira vida com Cristo começa quando paramos de tentar merecer algo com nosso próprio esforço e mérito (que não temos nenhum) e começamos a depender unicamente de Deus. Quando deixamos de nos apoiar em nossa justiça e passamos a descansar na justiça de Cristo.
Que o texto de hoje te faça andar com essa consciência:
“Sou totalmente fraco, mas Cristo é forte. Sou pobre e miserável, mas Cristo me enriquece. Sou indigno, mas Cristo me amou.”.
Bom dia!
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